Caras durões escrevem poesia (parte 3)


Mais uma vez dando seguimento à entrevista do Buk...

Sobre poesia:

Eu sempre me recordo dos parques, na escola, quando a palavra “poeta” ou “poesia” surgia, todos os garotinhos riam e zombavam. Eu posso ver a razão, por que é um produto falso. Tem sido tão firmemente denominada de maneira falsa e esnobe há séculos. É “delicado” demais. É “precioso” demais. É um monte de lixo. Poesia, há séculos, é praticamente quase toda um lixo. É um embuste, disparate.

Têm existido bem poucos bons poetas, não me interpretem mal. Tem um poeta chinês chamado Li Po. Ele podia colocar mais sentimento, realismo e paixão em quatro ou cinco simples linhas do que a maioria dos poetas podem colocar em doze ou 14 páginas de suas obras de merda. E ele bebeu vinho também. Ele costumava botar fogo em seus poemas, descer o rio navegando e beber vinho. Os imperadores o amavam, por que eles conseguiam entender o que ele dizia... mas, é claro, ele só queimou os seus piores poemas (risos).

O que eu tenho tentado fazer, se você me permite, é trazer a tona os aspectos da vida dos operários... a esposa gritando quando ele chega em casa da fábrica. A realidade básica de cada existência humana... uma coisa muito raramente mencionada na poesia de séculos. Me deixa triste ao falar que a poesia de séculos é uma merda. É vergonhoso.

Sobre Céline:

[Louis-Ferdinand Céline (1894-1961) foi um escritor francês cuja obra mais conhecida é Voyage au bout de la nuit (Viagem ao fim da noite)]

Da primeira que eu li Celine, eu fui pra cama com uma grande caixa de Ritz crackers. Eu comecei a ler e comendo Ritz crackers, e rindo, e comendo Ritz crackers. Eu li um romance inteiro de uma vez. E a caixa de Ritz estava vazia, cara. E eu levantei e bebi água. Você devia ter me visto, eu não podia me mover. Isso é o que um bom escritor vai fazer com você. Ele vai chegar bem perto de te matar... um escritor ruim também.

Sobre Shakespeare:

Ele é ilegível e superestimado. Mas as pessoas não querem ouvir isso. Veja, você não pode atacar templos sagrados. Shakespeare é divinizado pelos séculos. Você pode dizer “Fulano e Cicrano são atores ruins!”. Mas você não pode dizer que Shakespeare é uma merda. Quanto mais tempo uma coisa estiver por aí, os esnobes começam a se agarrar nela, como sanguessugas. Quando um esnobe se sente seguro com algo, nisso ele gruda. O momento em que você diz para eles a verdade eles vão à loucura. Não conseguem lidar com a verdade. É atacar seus próprios processos de pensamento. Eles me enojam.

Sobre seu material de leitura preferido:

Eu leio a revista “The National Enquirer” com pesquisas como “Seu marido é homossexual?”. Linda me falou “Você tem uma voz de biba”. Eu falei “Sim... eu sempre refleti sobre isso” (risos). Esse artigo diz “Seu marido faz as sombracelhas?”. Eu pensei, que merda! Eu faço isso o tempo todo. Agora eu sei o que eu sou. Eu faço minhas sombracelhas.... eu sou uma biba! Ok. É legal para a National Enquirer me dizer o que eu sou.

Sobre humor e morte:

Isso é insignificante. Um cara chamado James Thurber foi o útimo melhor humorista até hoje. Mas o humor dele foi tão genial que eles tiveram que não notar. Agora, esse cara é o que você pode chamar de psicólogo/psiquiatra de todas as idades. Ele tinha a coisa homem/mulher – sabe, via os dois lados. Ele era o remédio para todos os males. O humor dele era tão real que você tinha que praticamente gritar a sua gargalhada num frenesi explosivo. Tirando Thurber, não lembro de mais nenhum... Eu tenho um filete de um pouco do que ele tinha... mas não do jeito que ele teve. O que eu tenho eu não chamo bem de humor... Eu chamaria de uma “fronteira cômica”. Eu estou praticamente enforcado pela “fronteira cômica”. Não importa o que aconteça... é ridículo. Praticamente tudo é ridículo. Sabe, nos cagamos todos os dias. Isso é ridículo. Você não acha? Nós temos que continuar mijando, colocando comida em nossas bocas; aparece cera em nossos ouvidos, cabelos? Nós temos que nos coçar. Verdadeiramente desagradável e idiota, sabe? Tetas não tem utilidade nenhuma, a não ser que...

Sabe, somos monstruosidades. Se pudessemos ver isso, poderiamos amar a nós mesmos... note como somos ridículos, com nossos intestinos fazendo curvas, a merda descendo vagarosamente por ele enquanto nós nos olhamos nos olhos e dizemos “Eu te amo”; nossa carne envelhecendo, apodrecendo, a comida virando merda, e nós nunca peidamos perto de outras pessoas. Isso tudo tem uma borda, uma “fronteira cômica”.

E aí, morremos. Mas, a morte não nos ganhou. Ela não mostra nenhuma credencial – nós mostramos todas as nossas. Com nosso nascimento, ganhamos a vida? Não realmente, mas certamente nos encontramos com o fodedor... detesto, mas sou forçado a aceitar isso, a morte, a vida; detesto estar entre os dois. Sabe quantas vezes eu tentei suicídio? (Linda diz “Tentou?”). Me dê tempo, eu tenho só 66 anos. Ainda estou trabalhando nisso.

Quando você tem um complexo suicida, nada te incomoda... com exceção de perder na pista de corrida. De uma maneira isso te incomoda. Por que?... por que você está usando sua mente [na pista], não seu coração.

Eu nunca cavalguei um cavalo.

Eu não estou tão interessado no cavalo como processo de estar certo ou errado... seletivamente.


(fim da parte 3)

Comentários

.:.A Luciana.:. disse…
Meldels, vai ter uma parte 4? kkkkk

Bond, cê não tem uns livros do Poe que você tá querendo desapegar não? XDDDDDD

Procura a análise da Ana Carolina que você postou no Yahoo e posta de novo pra gente ver/ler kkkkk.

=***
.:.A Luciana.:. disse…
Bond, cê conseguiu colar com cola pvc mesmo? Tipo... não ficou mais fácil de soltar do que com a fita? As minhas fitas remendadas nunca soltaram, só as de Durex (aquela fita estreita e amarelinha).

Um curso de restauração/encadernação deve custar mais ou menos uns R$ 800,00 por técnica ou nível de curso... Caro pra caramba, eu já fui atrás de saber o preço, queria muito me especializar nessas coisas de livro (restauro e encadernação).

=]
Dan Silva disse…
Lu, deve ir até a parte 7, a entrevista é bem grandinha, kkkkk mas acho que na parte 6 já termina.

Po, esses dias bem dei um livro do Poe pro meu primo, "histórias extraordinárias", kkkkkkkkk, não sabia que você tava querendo, kkkkkkk.

Eu colei com cola normal, Lu, cola de papel, aquela branca, kkkkkk, da um trabalhinho, mas consegui colar na boa.
Eu sou meio averso a esse lance de fitas transparentes por que tenho medo dessas marcas, kkkkk, mas sei lá, vai ver a fita que você ta usando é de qualidade superior a que eu usei na época, e talvez não deixe marcas, não sei, mas ainda prefiro cola, kkkkkkk.

Putz, meio carinho mesmo esse curso, Lu, kkkkkk quando você falou eu pensei em ver como era pra fazer, mas com esse preço aí, agora não tem como, kkkkkkkkkkkk.

Vou ver se acho a análise da música da Ana Carolina que eu fiz, assim que eu achar eu posto aqui, kkkkkkkkkk.

Valeu, Lu, beijão =**

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